Ontem a noite eu terminei um livro que há muito tinha vontade de lê-lo. É o livro “Lições Amargas: Uma história provisória da atualidade”. O autor é ninguém menos que Gustavo Franco, um dos autores do Plano Real, Doutor em Harvard e o mais jovem presidente do Banco Central do Brasil até então. Recebi a indicação de leitura ao ler um artigo sobre o livro no blog Diplomatizzando, do diplomata Paulo Roberto de Almeida, a quem acompanho já há alguns anos (tanto lendo os artigos de seu blog, sempre com seu característico humor certeiro com pitadas de acidez, tanto lendo seus livros sobre a derrocada da diplomacia brasileira).
Porém, retomemos ao livro de Franco. Ele é, antes de tudo, um material de leitura essencial aos nossos tempos. Primeiro, porque é a análise de um economista experiente e intelectual sobre o Brasil de hoje. Segundo, porque essas análises são feitas através de uma conversa com o leitor. Ler Lições Amargas, para mim, foi como sentar-se com Gustavo e conversar com ele por horas sobre suas opiniões que rondam todos os pontos da economia brasileira. Entretanto, não pense caro leitor que este é um livro da mais pura opinião. Em muitos pontos Franco se baseia em teorias, conceitos, autores e bancos de dados para marcar suas falas.
Este é, sem sombra de dúvidas, um dos livros mais contemporâneos, pois arrisca-se a falar da menor taxa de juros que o Brasil já viu (a Selic esteve em incríveis 2% durante partes de 2020). É arriscado pois o próprio autor questiona se é possível manter a taxa Selic tão baixo assim. E, portanto, faz um exercício de prospecção de cenários. Ela subirá? Como estará a economia do Brasil adiante? 2022 será um bom ano? Em Lições Amargas, Gustavo Franco não apresenta certezas para responder essas perguntas, mas apresenta hipóteses e suas possibilidades de ocorrer. O futuro é sempre incerto, tão incerto quanto a economia…
Livro Lições Amargas de Gustavo Franco

Acho curioso ressaltar que, mesmo não sendo um economista de formação e não tendo bases tão sólidas nessa área, eu li metade do livro em 8h seguidas. Mostra o quão fluida e macia é a leitura através das palavras de Franco. Porém, atenção! Por vezes, alguns dos conceitos utilizados com tanta naturalidade pelo autor pode ser visto como um monstro de 7 cabeças pelo leitor. Nem sempre Gustavo Franco irá explicar alguns conceitos do economês, e forçará o leitor a ir fazer uma rápida pesquisa na internet para entender aquele fragmento.
Sobre a divisão interna do livro, o primeiro capítulo trata sobre “reformas”. O que são? No nosso país, é uma palavra mágica, que significa tudo e nada ao mesmo tempo. O autor vai fundo na busca do que significa “reformas” e quais são aquelas que o Brasil mais necessita. No segundo capítulo discorre-se sobre a ciência, tanto aquela para às vacinas tanto para às narrativas populistas de curas milagrosas. O capítulo três expõe o que os brasileiros já tinham que ter aprendido há muito tempo… O negacionismo fiscal não é só prejudicial para os mais pobres, mas é também um movimento anticiência. O quanto eu gostaria de mostrar esse capítulo para alguns colegas que pensam que o dinheiro é (in)finito. Seguindo, o capítulo quatro faz uma análise dos juros como citado anteriormente, assim como o capítulo 5 trata de alguns pontos mais específicos dos problemas estruturais da economia brasileira. Por fim, o capítulo 6 fala da eterna abertura da nossa economia, e o quanto estamos desconectados das cadeiras globais de valor e da economia internacional em geral.
De fato, é um excelente livro. A leitura é na maioria fluida e agradável – só não foi mais fluida por déficit de conhecimento meu na área de economia. De resto, é um material excelente e necessário. Recomendo a leitura para colegas e acadêmicos, não só de Relações Internacionais, mas da Economia, Ciência Política e demais áreas similares.
Bibliografia citada:
FRANCO, Gustavo. Lições Amargas: uma história provisória da atualidade. 1º ed. Rio de Janeiro: História Real, 2021.